Apesar das múltiplas aplicações da cortiça, a rolha de cortiça natural é o produto derivado da cortiça de maior valor acrescentado e que confere maiores lucros à indústria corticeira.

Ao longo da História, encontram-se referenciadas as utilidades da cortiça pelas civilizações antigas, sobretudo no fabrico de embarcações e material piscatório, calçado e construção, assim como vedante de tonéis (APCOR, 2015).

Contudo, é a partir do século XVIII que a atividade corticeira se inicia verdadeiramente, quando o monge francês Dom Pierre Pérignon usou, pela primeira vez, a rolha de cortiça natural como vedante de champagne. No século XX, a indústria corticeira sofreu uma enorme expansão, nomeadamente face ao desenvolvimento de aglomerados diversos à base de cortiça e à crescente internacionalização do consumo do vinho.

Hoje em dia existem no mercado uma grande diversidade de rolhas de cortiça adaptadas a cada segmento de vinho. Não obstante, a indústria corticeira continua a apostar na inovação do produto, focados na melhoria da sua qualidade e num produto adaptado às tendências de mercado e necessidades dos consumidores.

Na Tabela 1 estão representados os diferentes tipos de rolhas de cortiça e as suas principais características.

Tipos de Rolhas 

Rolhas Naturais

Só a rolha de cortiça 100% natural consegue assegurar o equilíbrio perfeito com o vinho, promovendo a evolução do mesmo através de inúmeros processos químicos. São fabricadas por brocagem a partir de uma peça única de cortiça. Imprescindível em vinhos de qualidade. Pode vedar qualquer tipo de vinhos.

Rolhas Naturais Colmatadas

Rolhas de cortiça natural de maior porosidade. Os poros são preenchidos com pó de cortiça resultante da retificação das rolhas naturais fixadas com colas à base de resina natural e borracha natural. Apresentam uma aparência visual bastante homogénea e com boas características mecânicas.

Rolhas técnicas

Constituídas por um corpo denso de cortiça aglomerada, com discos de cortiça natural colados num topo, ou em ambos os topos, com aglutinantes aprovados para serem usados em produtos que vão estar em contacto com alimentos. É quimicamente estável e mecanicamente resistente. Concebidas para engarrafar vinhos tranquilos destinados a ser consumidos, em geral, num prazo de 2 a 3 anos.

Rolhas de Champagne

Concebidas para vedar champanhe, vinhos espumantes ou vinhos espumosos (gaseificados) e sidra. Produzidas a partir de um corpo formado por aglomerado de grânulos de cortiça, ao qual, num dos topos, são aplicados 2 discos de cortiça natural. Possuem maior diâmetro, imprescindível para suportar as elevadas pressões existentes nas garrafas de vinhos com gás.

Rolhas de aglomerado

Fabricadas a partir de granulados completamente homogéneos de cortiça proveniente de subprodutos resultantes da produção de rolhas naturais por moldação individual ou extrusão. Usadas em vinhos de baixo preço e de alta rotação. Solução económica para assegurar uma vedação perfeita por um período que não deverá superar os 24 meses.

Rolhas Capsuladas

Rolha de cortiça em cujo topo é colocada uma cápsula, de madeira, PVC, porcelana, metal, vidro ou outros materiais. Geralmente utilizada em vinhos licorosos/generosos ou em bebidas espirituosas. Reutilização fácil – fator importante em garrafas cujo conteúdo não é consumido de uma só vez.

No final do século XX, as rolhas de cortiça foram alvo de acusações relacionadas com o “gosto a rolha” presente nos vinhos. O “gosto a rolha” está associado à presença de contaminantes da cortiça com aromas a mofo e bafio (Coque et al., 2006), sendo o TCA (sgila para o composto químico 2,4,6 – Tricloroanisol) considerado como o principal responsável por este defeito sensorial. Em consequência, o mercado da cortiça ressentiu-se, gerando perdas económicas significativas.

Simultaneamente, surgiram no mercado novos vedantes, alternativos à cortiça, agravando a situação da indústria corticeira e ameaçando a posição das rolhas e cortiça natural no mercado como vedantes de excelência.
Os vedantes alternativos podem dividir-se, entre outros, em vedantes sintéticos, cápsula de rosca (screw-cap), rolhas de vidro, etc.

Os vedantes sintéticos são vedantes baratos, fabricados a partir de materiais poliméricos, mimetizam o aspeto natural da cortiça, mas com grande homogeneidade tornando-os visivelmente atraentes. São referidos como tendo uma elasticidade e aparência semelhante à rolha de cortiça podendo, inclusive, serem usados em sistemas de engarrafamento convencionais.

A grande maioria dos vedantes sintéticos possui ainda a particularidade de originarem o “pop” aquando da sua extração com saca-rolhas, considerado um argumento a favor do ponto de vista cultural.

As cápsulas de rosca são os vedantes mais populares na “guerra” contra as rolhas de cortiça natural. São formadas por uma parte externa composta por uma liga de alumínio e um liner no seu interior com diferentes camadas de polímeros que estão em contacto com os vinhos. Existem no mercado 2 tipos de liner: o saran-estanho e saranex. A principal característica do saran-estanho é a baixa permeabilidade a gases, contrariamente ao saranex que apresenta maior permeabilidade ao oxigénio (O 2 ).

As cápsulas de rosca são uniformes, muito fáceis de abrir e mantém os níveis mais elevados de dióxido de enxofre (SO 2 ) livre nos vinhos. O vedante de vidro (Vinolok®) é usado por muitos produtores de vinho alemão e austríaco. É inerte, neutro, muito eficaz como vedante, reciclável e esteticamente apelativo.

Para vinhos de alta rotatividade, os vedantes sintéticos e as cápsulas de rosca, podem constituir uma solução economicamente mais apelativa. São usados frequentemente em mercados como a Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido e possuem em comum o facto de alterarem a evolução do vinho e de não serem recomendados para estágios prolongados.

As rolhas sintéticas não vedam totalmente a garrafa, podendo provocar oxidações pós-engarrafamento, derivadas da entrada excessiva de O 2 na garrafa. Este fenómeno está associado a aromas de evolução precoce. As cápsulas de rosca saran, pelo contrário, vedam completamente a entrada do O 2 , promovendo reações que originam sulfuretos, dando origem a aromas bastante desagradáveis, como a ovos podres. Os vedantes de vidro têm como principais desvantagens o elevado preço e a vulnerabilidade a danos provocados durante o transporte e na evolução dos vinhos têm uma performance parecida com a dos plásticos.

Deste modo, as rolhas de cortiça natural continuam a ser imprescindíveis e mantém a sua posição de destaque na conservação de vinhos de qualidade, uma vez que promovem a sua evolução equilibrada. No entanto, face aos problemas associados aos desvios sensoriais provocados pelas rolhas e à crescente concorrência, a indústria corticeira tem focado as suas atenções no fabrico de rolhas cada vez mais eficientes e na erradicação do problema do TCA.